sábado, 3 de dezembro de 2011

OS SALVADORES


—Sapabela!
—Rospo, meu lindo! Hoje é sexta!
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Para que eu fui lembrar?
—Ninguém...
—Já sei, ninguém é de ninguém. Que noite boa, não é, Rospo?
—Você deixou o luar mais azul com a sua presença.
—Rospo, está nublado. A noite desceu com frio. O luar se escondeu. Veja! Nem estrela tem.
—Tem...
—Por acaso eu me enganei?
—Sim, querida.
—Faz pra mim, faz...
—Fazer o que?
—O seu Yupi.
—Por qual motivo?
—A Sapabela se enganou.
—Pare com isso. E não queria que você se fosse.
—Acabei de chegar, Rospo. Mas fale do meu engano.
—Disse que não tem estrelas.
—E tem?
—Sim, elas estão lá, no alto, no mesmo céu. O fato de haver neblina, de a noite está enevoada, não quer dizer que elas não estejam lá. Por não conseguir vê-las, jamais pense que não estão no firmamento as estrelas. Elas estão acima da neblina.
—Tem razão, Rospo. Mas, sabe aquele assunto do amor cuidado? Pegou bem, porém, poderia falar só um pouquinho sobre o que exatamente quis dizer?
—Um pouquinho é difícil, mas vou tentar. O cuidado, o zelo, quer dizer atenção, carinho, delicadeza, ternura, compreensão, sinceridade...
—Pronto! Agora entendi bem o "cuidado". Obrigado, amigo. Veja! Um casal de namorados, vão se beijar.
—Salvação!
—Mire! Outro casal!
—Salvação.
—Rospo? Ficou abestalhado, meu querido? Cada vez que aponto um casal, diz "Salvação".
—Pois é.
—Ainda não aprendi a decifrar "Pois é".
—Na verdade, Sapabela, é que os casais de namorados salvariam o planeta. Acreditar no abraço é minha irredutível firmeza.
—É mesmo?
—Sim, quanto mais namorados no mundo, menos risco o planeta sofre. A melhor forma de reduzir a violência é se investir nos namorados.
—Como se faz isso?
—Muitos sapos já fazem isso sem que saibam. O governante que manda construir mais praças. Os compositores com suas canções, os poetas, os cineastas. Toda arte, todo gesto artístico, toda estética, é não apenas um tributo, mas um incentivo, um chamamento para o namoro. O próprio idioma com suas palavras, tudo comparece na grande ciranda da vida, onde enamorar-se é o mais belo dos dizeres.
—Rospo, então, vamos lá.
—Vamos aonde?
—Vamos tomar um sorvete, ou melhor, um licor de chocolate, pois frio se paga com chocolate quente.
—Que mais? Que mais?
—Abraço quente.
—Que mais? Que mais?
—Rospo! Assim não é quentura, é fervura. Vamos ao nosso licor? A amizade, não é salvação do mundo também?
—É salvação sim. Por isso toda amizade tende naturalmente ao namoro.
—Errado, Rospo! Sapos e sapas podem ser amigos.
—Sim, claro! Quem negou isso?
—Pensei...
—É só você desviar da tendência natural e prosseguir com a amizade, a cada dia mais sólida, mais firme.
—Sabe, Rospo. Seu papinho vai longe.

Beijinhos, beijinhos, tchau, tchau.
MEP

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